COLUNA PERFIL
Entrevista
Entrevista na Íntegra
COLUNA PERFIL
Bem-vindos à coluna PERFIL, o espaço onde apresentamos aos leitores os profissionais do nosso sistema de justiça. Nessa coluna, traremos entrevistas exclusivas com advogados, juízes, promotores, delegados e servidores públicos, sobretudo da área jurídica da nossa região.
Através dessas entrevistas, conheceremos a história, as experiências e as perspectivas desses profissionais que dedicam suas vidas para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.
Com essa coluna, esperamos contribuir para a aproximação entre a sociedade e aqueles que são responsáveis por garantir a proteção de seus direitos e interesses, e atuam para o fortalecimento do sistema jurídico como um todo.
Hoje temos o prazer de entrevistar Diego Tobias de Castro Bezerra, advogado com mais de 13 anos de experiência em diferentes estados do Nordeste do Brasil, como Bahia, Rio Grande do Norte, Ceará e Paraíba. Além de sua atuação como advogado, Drº Diego Tobias também já trabalhou como defensor dativo do TED e atualmente preside a Comissão de Direitos Humanos da OAB em Mossoró. Com uma trajetória diversa, Drº Diego Tobias também atuou como agente de proteção da Vara da Infância e Juventude e conciliador do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte. Com certeza, teremos muito o que aprender e descobrir nessa conversa.
Vamos à entrevista…
Drº Diego Tobias, qual foi o seu principal motivo para se tornar um advogado?
Sempre fui uma pessoa batalhadora e acredito que minha trajetória até aqui reflete isso. Nasci em Mossoró, mas morei no Ceará por alguns anos. Já trabalhei em plataformas marítimas em Paracuru e também tive um breve período como músico, onde tocava em festas locais com uma banda de pagode. Entretanto, após o primeiro período do curso de Direito, decidi abandonar a música e focar minha energia no estudo da advocacia. O principal motivo para essa mudança de rumo foi a urgência que sentia em querer construir uma carreira sólida e ser alguém na vida. Sempre fui uma pessoa pró-ativa e acreditei que a advocacia seria a profissão certa para me encaixar e seguir em frente.
Como você descreveria o seu estilo de advocacia?
Como advogado, acredito que é fundamental ter um perfil arrojado. Afinal, nossa profissão exige que estejamos sempre em movimento e prontos para enfrentar desafios diários. Não podemos nos limitar a esperar os clientes em nossas salas, é preciso ir atrás deles e estar presente em diversos lugares, emitindo opiniões, fazendo networking e acompanhando de perto as mudanças na sociedade. A advocacia é uma profissão dinâmica e exigente, mas que pode ser muito gratificante quando realizamos um trabalho de qualidade para nossos clientes.
Quais são as suas áreas de especialização?
Atualmente, sou especialista em direito médico e estou terminando uma pós-graduação em Processo Civil, o que me permite atuar de forma mais completa em diversas áreas do Direito. No entanto, tenho me dedicado especialmente às demandas trabalhistas e de consumidor, que são áreas em que tenho tido grande procura pelos meus serviços.
Qual é o caso mais desafiador que você já lidou e como conseguiu superar esse desafio?
Durante meus 13 anos de advocacia, tive vários casos desafiadores, mas um deles foi muito marcante. Foi um júri que fiz defendendo um gari acusado de matar o assassino do filho. O promotor falou por uma hora e meia, e eu pedi somente 15 minutos para a minha defesa. O resultado foi que ele foi absolvido, e saiu rapidamente do Fórum Municipal para não se atrasar no trabalho. Fiquei muito feliz porque consegui garantir que a justiça fosse feita, abrindo os olhos dos jurados para não condenar um homem bom e transformá-lo em um monstro na cadeia. Esse caso foi tão importante que foi mostrado em reportagens exibidas no Jornal da Record e também publicado no site da BBC, de Londres.
Para superar esse desafio, foi necessário muita coragem e serenidade. Decidi ser ousado e deixei claro aos jurados que não iria recorrer em caso de condenação. Foi uma estratégia arriscada, mas que se mostrou eficaz.
Quais habilidades são essenciais para um advogado?
Na minha opinião, as habilidades essenciais para um bom advogado não se limitam à inteligência e ao estudo, já que considero que essas habilidades devem ser uma obrigação para qualquer profissional da área. Para mim, o que realmente importa é o comprometimento com o trabalho e a honestidade com os clientes. Como advogados, não podemos vender sonhos e promessas impossíveis. Temos que ser claros e realistas em relação aos resultados que podemos alcançar. Além disso, devemos sempre tratar nossos clientes com respeito e atendê-los da melhor maneira possível, mesmo que eles possam fazer perguntas estranhas, como sobre o andamento do processo em um supermercado (risos)!
O que você considera como a maior realização em sua carreira jurídica até agora?
Acredito que a maior realização da minha carreira jurídica até agora foi quando consegui ajudar minha família a resolver um problema financeiro bastante difícil. Meu irmão estava estudando medicina em uma faculdade particular e tínhamos conseguido um financiamento para cobrir os custos. No entanto, o banco interpretou o contrato de forma equivocada e encerrou o financiamento repentinamente. Isso resultou em uma dívida alta e imediata com a faculdade e com o banco. Meu tio era o fiador e estávamos todos preocupados e sem saber o que fazer.
Passei dois dias estudando a situação e, finalmente, decidi entrar com uma ação para tentar resolver o problema. Foi um momento crucial para minha família, pois se não conseguíssemos uma liminar favorável, meu irmão teria que interromper seus estudos e não sabíamos como pagaríamos o empréstimo. Meu irmão havia inclusive deixado um bom emprego de enfermeiro na Amazônia para realizar o sonho de se tornar médico.
Apresentei a ação à magistrada e graças a Deus, a liminar foi concedida nos moldes legais, permitindo que meu irmão concluísse seus estudos em medicina. Para mim, essa foi a maior realização da minha carreira jurídica até agora, porque era o destino da minha família em jogo.
Qual é o seu processo de trabalho ao assumir um novo caso?
Concordo com o brocardo que diz que “o advogado é o primeiro juiz da causa”. Por isso, antes de tudo, procuro compreender e acreditar no caso que estou trabalhando. Para isso, reviso a documentação e peço para o cliente ser sincero comigo. Em seguida, realizo uma pesquisa minuciosa da jurisprudência aplicável ao caso e começo a elaborar a peça processual. Às vezes, busco a ajuda de outros colegas e estabeleço parcerias, porque no Direito, a união de conhecimentos pode ser a chave para alcançar o sucesso. Além disso, sempre informo o cliente sobre os riscos que envolvem o processo, pois todos nós somos falhos e os julgamentos são realizados por humanos, e não por seres divinos.
Como você vê o papel da tecnologia na prática jurídica e como ela afetou a forma como você trabalha?
Eu particularmente vejo com bons olhos o uso da tecnologia no mundo jurídico. Através de videoconferências, posso despachar com desembargadores de forma virtual, o que torna a nossa rotina mais prática e eficiente. Além disso, já fiz inclusive sustentação oral junto ao STJ no conforto do meu próprio escritório, o que antes seria impensável. Acredito que a tecnologia trouxe muitos benefícios para a nossa vida cotidiana, pois enquanto esperamos uma audiência no nosso escritório, podemos resolver outras questões importantes.
Qual é a sua opinião sobre a ética na prática jurídica e como você a incorpora em seu trabalho?
Considero a ética na advocacia um tema muito importante. Por princípio, não assumo processos de outros advogados sem que haja um substabelecimento. Quando um cliente me procura e já tem um advogado cuidando do caso, eu sempre recomendo que ele resolva a questão com o profissional que já o está representando. Acho que é importante ser transparente desde o início, para evitar problemas futuros. Inclusive, em algumas situações, já entrei em contato com colegas para avisar que seus clientes estavam me procurando. Fiz isso porque gostaria que agissem da mesma forma comigo. É uma questão de respeito e de ética profissional.
Como você equilibra as demandas profissionais e pessoais?
Realmente é difícil. Nós somos solucionadores de problemas e as pessoas procuram o nosso escritório em busca de ajuda. Trabalhamos com problemas 24 horas por dia e, às vezes, está em jogo a vida de uma pessoa. Por isso, essa profissão pode ser muito estressante. Eu tento evitar conflitos dentro de casa e me desconectar um pouco do trabalho. Apesar de não conseguir seguir completamente a ideia de “sair da empresa e tirar a camisa”, evito levar meu computador para casa. Gosto de jogar vídeo game e praticar jiu-jitsu para me distrair e aliviar o estresse.
Você é atualmente presidente da comissão de direitos humanos da OAB Subseccional Mossoró, qual a importância dessa comissão para a advocacia e sociedade?
O tema dos direitos humanos me inspira muito. Quando assumi a presidência da comissão, recebi muitas críticas, mas como mencionei anteriormente, adoro desafios e escolhi ser advogado por uma razão. Na comissão, realizamos diversas atividades em Mossoró, como mesas redondas sobre pessoas em situação de rua, refugiados venezuelanos, visitas a hospitais e presídios, com palestras sobre ressocialização. A comissão tem se dedicado a defender a sociedade e, principalmente, a trazer uma nova abordagem para os próprios advogados que muitas vezes não compreendem a essência dos direitos humanos. Gostaria de aproveitar esta oportunidade para agradecer à diretoria da OAB pela confiança depositada em mim e a todos que fazem parte da comissão e trabalham junto comigo nesse objetivo.
Qual conselho você daria para alguém que está considerando ser advogado?
Assim que recebi minha carteira da OAB, busquei os melhores escritórios de advocacia da cidade para trabalhar. Aprendi muito com eles e sou grato pelo aprendizado que adquiri. Meu conselho para quem quer seguir a advocacia é ser persistente e paciente. Se você quer ser advogado, deve acordar cedo, estudar muito e buscar parcerias com grandes escritórios. Não é aconselhável formar sociedade com colegas de classe logo após a graduação, pois eles estarão no mesmo nível de experiência que você. É melhor se associar a advogados mais experientes. Segui essa estratégia e deu certo, mesmo porque minha família não tem tradição na área jurídica.